sábado, 26 de dezembro de 2009

Os primeiros dias de férias

Após um ano tão cheio de correrias, é até difícil de acreditar que o dia vai correr de maneira preguiçosa. São as merecidas férias, que afastam computadores e idéias de pressa, e aproximam o protetor solar e a família, igualmente em ritmo lento e descompromissado.

O barulho da rede é ritmado, agudo, fruto de alguma peça de seu suporte que roça no metal a cada balanço. A brisa é tépida, um pouco mais quente que o desejado, mas transpirar um pouco não faz mal a ninguém.

Procura-se a companhia de bons amigos, regada a boa bebida. Tudo o que se quer é o jantar perfeito, da comida preferida. Adormecer no colo da mulher amada enquanto recebe afagos, enebriado pelo seu cheiro de perfume.

Dormir até acordar. Acordar sem compromisso. Ver o dia passar sem horário. Dia após dia. Como se as férias não tivessem fim.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Coração Abafado

Seu apartamento estava abafado naquela noite. Quando abriu a janela, uma brisa fresca e reconfortante secou o suor de seu pescoço. Não conseguia se concentrar.

De maneira automática, procurou pela geladeira. Assaltos que fizera durante o dia tinham acabado com tudo o que havia de interessante. Frustrado, voltou para a sala, que sob o efeito da janela escancarada já parecia menos insalubre.

Sentado novamente em frente ao computador, sua cabeça apresentou a programação do dia seguinte. Não seria nada demais. Queria ficar até tarde acordado, ter o que fazer, instigar sua mente. Mas a inspiração parecia tê-lo abandonado.

Os amigos estariam indisponíveis, e já era tarde. O que restava fazer? Estava enjoado da televisão. Intuitivamente sabia que nada ali prenderia sua atenção. Sentiu-se sozinho, dolorido – e ao mesmo tempo orgulhoso, desperto. Que tipo de novidade sua mente traria?

Acabou vencido pelo sono, mas não antes de despejar no teclado do computador textos escatológicos e confissões impróprias que seus personagens diziam em seu lugar, numa frágil escaramuça.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

On the Road

Trecho do livro "On the Road" de Jack Kerouak

Sal Paradise e Dean Moriarty estão de carona, no banco de trás, indo de S. Francisco para Denver, quando Dean comenta com Sal:

"Agora saca só esse pessoal aí na frente. Estão preocupados, contando os quilômetros, pensando em onde irão dormir nessa noite, quanto dinheiro vão gastar em gasolina, se o tempo estará bom, de que maneira chegarão onde pretendem - e quando terminarem de pensar já terão chegado onde queriam, percebe? Mas parece que eles têm que se preocupar e trair suas horas, cada minuto e cada segundo, entregando-se a tarefas aparentemente urgentes, todas falsas; ou então a desejos caprichosos puramente angustiados e angustiantes, suas almas realmente não terão paz a não ser que se agarrem a uma preocupação explicita e comprovada, e tendo encontrado uma, assumem expressões faciais adequadas, graves e circunspectas, e seguem em frente, e tudo isso não passa, você sabe, de pura infelicidade, e durante todo esse tempo a vida passa voando por eles e eles sabem disso, e isso também os preocupa num círculo vicioso que não tem fim."

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Medita-ação

Hoje o dia passou tão rápido que nem vi. Me absorvi em algumas tarefas, algumas domésticas outras profissionais, e quando vi eram 17:00h e não nem tinha almoçado.

Existe um prazer especial em ver várias tarefas pendentes resolvidas, apesar da dor nas costas e de algumas coisas que tiveram que ser adiadas. Esse deve ser o verdadeiro significado de meditação. Concentrar-se numa tarefa a tal ponto que nada mais ocupa espaço ou energia de sua mente. Fiquei ali em cada tarefa, como se não houvesse nada depois, como se nada mais fosse importante no mundo.

Por um momento, existi para essas tarefas, e essa entrega fez com que tivessem um significado especial. Divido isto com vocês.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Contraponto

Acabo de postar no blog “apenas dois pontos” sobre a má formação de jovens, e critiquei sua falta de compromisso com a faculdade, ficando nos bares dos arredores no período de aulas.

Como contraponto:

Já era meia noite, e em breve os ônibus seriam recolhidos. Ainda assim, uma estranha sensação de paz e adequação me contaminava. A meu redor, alguns amigos e outros nem tanto, mas que naquele momento sob influência etílica eu confiava, me garantiam o transporte para casa, pedindo que eu ficasse.

Tratava-se de um pacto para que não deixássemos a noite acabar. A conversa tão boa, tão sincera! Opiniões fortes e categóricas recebidas com riso e aprovação. Em curtos momentos, meus olhos turvos da fumaça de cigarros fitavam a multidão espalhada nas calçadas, em algazarra.

Uns poucos neurônios sóbrios se lembravam dos compromissos do dia seguinte, mas uma aparentemente interminável ponte de sono e inconsciência separaria os momentos de descontração naquele local do dia de atividades que me esperava amanhã. Era como se aquele mundo fosse acabar no momento em que eu fechasse os olhos, e outra realidade fosse me receber no dia seguinte.

Talvez por isso todos lutavam para manter os colegas ali, juntos, desafiando o relógio copo após copo – apegados àquele mundo irreal e esfumaçado que inevitavelmente fugia de nossas mãos.

Chega um momento, porém, em que mesmo bêbados nos damos conta da ilusão que estamos vivendo. Então, acordados da catarse, um desânimo grande e os primeiros indícios da intoxicação alcólica nos pedem para desistir de mais este sonho, de mais esta paixão. A conversa fica repetitiva, os pés doem, você começa a pensar na conta a pagar. O mundo que parecia compartilhado passa a ser solitário e você questiona se realmente havia parceria.

É hora de deixar-se ir embora, talvez reencontrar este momento na brisa de outra noite de verão, no convite doce dos amigos para mais algumas horas de ilusão.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Dias quentes

Dias quentes como hoje produzem um estranho efeito em mim. As vezes a mente para, e por um minuto o ar parece pesado, modorrento.

Diferente de nossos momentos de preguiça, parece que o planeta está mais lento. O motor que faz a terra girar parou por um instante, e ficamos no embalo. Apenas alguns segundos. Nada demorado que fizesse o dia ter mais minutos, ou que atrapalhasse nosso clima. Ele religa, e o dia continua.

Como os dias que continuam, resolvi continuar meu blog pessoal. Estou mudando de endereço, pois aqui é mais bonito e democrático. Quem tiver interesse em ver o histórico, basta clicar AQUI.

Um abraço aos leitores, e não deixe de visitar o blog "Apenas Dois Pontos" .