sábado, 10 de dezembro de 2011

De "O Corcunda de Notre Dame"

O Arcediago, contando de como era feliz antes de conhecer a cigana Esmeralda: "...Não me interrompas. - Sim, era feliz, pensava sê-lo, pelo menos. Era puro, tinha a alma cheia duma claridade límpida. Não havia fronte que se erguesse mais altiva nem mais radiosa que a minha. Os padres consultavam-me sobre a castidade, os doutores sobre a doutrina. Sim, a ciência era tudo para mim; era uma irmã, e essa irmã bastava-me. Não quer dizer que com a idade não me viessem outras idéias. Por mais de uma vez a minha carne se emocionara com a passagem duma forma de mulher. A força do sexo e do sangue do homem, que, louco adolescente, julgara ter sufocado por toda a vida, tinham por mais de uma vez soerguido convulsivamente a cadeia de votos de ferro que me prendem, miserável, às frias pedras do altar. Mas o jejum, a oração, o estudo, as macerações do claustro, tinham conseguido tornar a alma senhora do corpo. Depois, fugia das mulheres. Bastava-me abrir um livro para que todos os impuros fumos do meu cérebro se dissipassem, perante o esplendor da ciência."

E depois de conhecê-la:..."Eu vou cair sobre estas pedras se não tens piedade de mim, piedade de ti. Não nos condenes a ambos. Se soubesses quanto eu te amo! Que coração palpita aqui no meu peito! Oh! Que deserção de toda a virtude! Que abandono desesperado de mim mesmo! Doutor, ultrajo a ciência; nobre, quebro o meu brasão; padre, faço do missal um travesseiro de luxúria, escarro no rosto do meu Deus! Tudo isto por tua causa, encantadora! Para ser mais digno do teu inferno!"

sexta-feira, 13 de maio de 2011

mais trechos de livros

Alguns trechos de leituras recentes. Não há necessária relação entre os textos. São aquelas frases que ao ler a gente sente vontade de dividir com alguém.


" A única solução biológica sensata para esse dilema é um despovoamento maciço, ou uma rápida emigração da espécie para outros planetas, associada dentro do possível com as outras quatro soluções antes apontadas: desarmamento, despatriotização, substitutos inofensivos de guerra, controle intelectual da agressão. Já sabemos que a agressividade incontrolável aumentará dramaticamente se a população humana continuar a aumentar segundo as aterradoras proporções atuais. Isso já foi aliás devidamente demonstrado em experiências de laboratório. A agolomeração excessiva produzirá uma tal agitação social, que acabará por despedaçar as noassas organizações comunitárias muito antes de morrermos de fome. A aglomeração excessiva agirá diretamente contra qualquer progresso do controle intelectual e aumentará de uma maneira bárbara as possibilidades de explosão emocional. A unica forma de prevenir esse risco será uma grande limitação dos nascimentos. Infelizmente, a medida implica dois obstáculos muito sérios. Como já disse, a unidade familiar - que continua a ser a unidade básica de nossas sociedades - é um dispositivo de procriação que evoluiu até atingir o atual sistema avançado e complexo de produzir, proteger e amadurecer descendentes. Se tal função fosse seriamente mutilada ou temporariamente eliminada, seria afetada a ligação aos pares, produzindo certo caos social. Por outro lado, qualquer tentativa de limitação seletiva dos nascimentos com certos casais reproduzindo-se livremente e outros impedidos de se reproduzir, iria perturbar a cooperação fundamental da sociedade. (O macacu Nú, 1969)

Ando lendo bastante...

Alguns trechos de leituras recentes. Não há necessária relação entre os textos. São aquelas frases que ao ler a gente sente vontade de dividir com alguém.

" Assim, se o tempo cotidiano do homem está hoje submetido ao tempo do objeto e da mercadoria, isto equivale a dier que o tempo do homem está submetido ao tempo do consumável. Ou seja, submisso ao tempo daquilo que vai finalizá-lo como um ente, cujo ser se caracteriza pelo cuidar de ser, e de ser si mesmo" (vida e morte- Ensaios fenomenológicos, 1988)