quarta-feira, 13 de março de 2013

O Retrato de Oscar Wilde


Em minhas metas de leitura deste ano, preciso acrescentar alguns clássicos a meu currículo. Foi assim que peguei “O retrato de Dorian Gray” da prateleira – obra de Oscar Wilde.

Autor conhecido pelo homossexualismo numa época em que isso era um enorme tabu (acho as vezes que isto não foi superado) e pela vida de “dândi” que levou em Londres, Wilde deixa muito de sua própria vivência e entendimento do ser humano neste livro. A maioria de suas obras não foram romances, mas poesias e peças para teatro, pelo que soube. Ainda assim, faz jus ao título de “clássico da literatura”, pois é denso e bem escrito.

O primeiro contato com o livro deixa uma sensação de ritmo lento.  E então, com um fato surpreendente (que não cito aqui para não me tornar “spoiler”), o autor faz o ritmo lento tornar-se mais frenético, e o livro segue interessante até o final. No decorrer da história, podemos observar “na janela do trem” a vida na nata de uma sociedade rica, sem preocupações por sobrevivência, já anestesiada de suas culpas.

Um homoerotismo subjacente aparece nas relações de admiração e controle entre os personagens masculinos iniciais. A misoginia aparece no retrato das mulheres durante o livro – mas aparecem como crítica, não determinismo ou preconceito. São construídos cenários da sociedade fútil da época, mas que por ter ainda contar com educação forte na infância, sobra em criatividade para justificar sua inutilidade. Num estilo de vida em que tudo está garantido, os prazeres simples perdem em interesse, e é preciso drogas cada vez mais pesadas. É assim que as personagens trocam frases sarcásticas, polêmicas e desesperançosas.

O sarcasmo é uma cortina de fumaça para esconder problemas de autoestima. Nas frases inteligentes e na influência sutil de um personagem sobre o outro, aparece a genialidade do autor, mas também sua prisão e fragilidade. De forma semelhante, o caçador tem a vida da caça na ponta de seus dedos no gatilho, mas é escravo da caça por precisar da adrenalina desse momento para justificar sua existência.

Vale muito a leitura.

Frases selecionadas:

“  - Meu amigo, não falo completamente a sério. Mas não posso deixar de detestar meus parentes. Suponho que isto se deve a que nenhum de nós pode suportar a vista de outros que tenham os seus mesmos defeitos. Estou completamente de acordo com a democracia inglesa, na sua cólera contra o que ela denomina os vícios das classes superiores. O povo acha que a embriaguez, a ignorância e a imoralidade devem ser propriedade sua e, se algum de nós incorre nesses defeitos é como se invadisse os seus domínios. Quando o pobre Southwark compareceu diante do Tribunal de Divórcios, a indignação desse povo foi magnífica. E, contudo, não acredito que a décima parte do proletariado viva corretamente.”

“Costuma-se dizer que a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só o medíocre não julga pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível... Sim, Sr. Gray, os deuses foram generosos para com o senhor. Mas o que os deuses dão, tomam logo em seguida. O senhor não tem senão uns poucos anos para viver verdadeiramente, perfeitamente, plenamente. Quando a sua juventude se desvanecer, a sua beleza ir-se-á com ela, e, então, descobrirá que nada ficou dos seus triunfos, ou terá de se conformar com esses êxitos insignificantes, que a lembrança do passado torna ainda mais amargos que derrotas.”

“ – Hum! Dize à tua tia Ágata, Harry, que não me incomode mais com as suas obras de caridade. Estou farto delas. Ora! A boa criatura pensa que não tenho mais nada a fazer, senão assinar cheques para as suas tolas manias.
 - Muito bem, tio George, dir-lho-ei, mas não surtirá nenhum efeito. Os filantropos perderam toda a noção de humanidade. É a sua mais notável característica.”

“Meu caro amigo, nenhuma mulher é gênio. As mulheres são um sexo decorativo. Não têm nunca nada a dizer, mas dizem-no de um modo encantador. As mulheres representam o triunfo da matéria sobre a inteligência, exatamente como os homens representam o triunfo da inteligência sobre os costumes.”

“Verdade é que todo aquele que observava a vida, em seu estanho crisol de dor e prazer, não podia usar máscara de vidro no rosto, nem impedir que os vapores sulfurosos lhe perturbassem o cérebro e turvassem a imaginação com monstruosas fantasias e sonhos informes. Havia venenos tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, fazia-se mister experimentar seus efeitos em si mesmo. E enfermidades tão estranhas que era preciso tê-las sofrido, para compreender-lhes a natureza.”

“A sociedade, a sociedade civilizada pelo menos, nunca se acha disposta a acreditar em alguma coisa desabonadora em relação àqueles que são simultaneamente ricos e sedutores. Considera instintivamente as maneiras mais importantes do que a moral e, em sua opinião, a mais alta respeitabilidade vale muito menos do que o fato de se possuir um bom cozinheiro.”

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