quarta-feira, 13 de março de 2013

Romance Sensorial e Etílico de Hemingway


Mais um clássico para a lista - Ernest Hemingway, nobel de literatura, premio Pulitzer. Li uma versão ou o original de “O Velho e o Mar” na adolescência, mas não tenho quase lembrança – então peguei na prateleira este autor sem saber o que esperar.

A leitura de “O sol também se levanta” é um convite a continuar lendo mais obras do autor. Para quem espera uma novela cheia de acontecimentos, pode se frustrar. Ele não explora uma sequencia de fatos – mas trabalha com muita qualidade os personagens e suas experiências. Você acaba se vendo na pele dos mesmos, experimentando cada bebida, o calor de uma cidade, a tensão entre os amigos, a zonzeira da embriaguez, a delicia de um mergulho no mar.

É quase um “road novel” pois há vários deslocamentos do grupo de amigos, triângulos amorosos, bebidas. Mostra a vida de ricos europeus, sem preocupação alguma a não ser frequentar pontos turísticos, aproveitar a vida.

Interessante como essa vida de “sonho” para muitos gera tanto vazio no grupo. Em todo o livro, paira uma sensação de enfado com a vida, com certa inveja e perplexidade dos personagens principais por todos os que tocam seus caminhos  mas possuem propósitos ou necessidades que determinam suas ações. Me pareceram mimados, que podem comprar tudo, menos a satisfação de uma realização autentica o bastante para que eles próprios pudessem em seus critérios admirar.

P.S: Percebi a tradução um tanto antiga, ou inadequada, mas nada que prejudicasse o entendimento. No exemplo: “ – Essa conversa está muito cacête – disse Brett. – Por que não tomamos um pouco de champanha?”

Frases selecionadas:

“  - Bem, eu quero ir à América do Sul.
 - Escute, Robert, tanto faz um país como outro. Tenho experiência disso. Não podemos sair de dentro de nós mesmos. Não adianta.”

“E o feito que Paris inteira produzia em Robert Cohn. De onde teria Robert tirado essa incapacidade de gostar de Paris? De Mencken, possivelmente. Parece que Mencken detesta Paris e muitos jovens tiram de Mencken suas preferências e idiossincrasias.”

“Desejaria que Mike não tivesse tratado Cohn de maneira tão cruel. Mike, quando bebia, era mau; Brett sabia beber e Bill também. Cohn jamais se embriagava. Passado um certo limite, Mike tornava-se desagradável. Eu gostava de vê-lo magoar Cohn e, contudo, desejaria que não o fizesse, porque, em seguida, sentia repulsa de mim mesmo. E nisto consiste a moral: coisas que fazemos e das quais depois sentimos repulsa. Não, isso devia ser imoralidade, ponto de vista muito amplo. Quanta tolice me passa pela cabeça, à noite.”

“Saí, e fui para o meu quarto. Estendi-me na cama. A cama jogava como um navio. Sentei-me e olhei fixamente a parede, a fim de detê-la. Fora, na praça, a festa continuava. Isso me era indiferente. Mais tarde, Bill e Mike vieram buscar-me para almoçarmos juntos. Fingi que estava dormindo.”

“Entrei na água: estava fria. Quando chegou uma onda, mergulhei, nadei e voltei à superfície, sem sentir mais frio. Nadei até uma jangada, subi para ela e fiquei deitado nas tábuas quentes. Um rapaz e uma moça estavam na outra extremidade. A moça desprendera as alças de seu maiô, nas costas, e bronzeava-se ao sol. O rapaz, deitado de bruços, na jangada, falava-lhe. Ela ria ouvindo-o e apresentava ao sol as costas bronzeadas. Demorei na jangada, ao sol, até secar. Depois mergulhei várias vezes, experimentando diversas maneiras. Mergulhei profundamente, uma vez, nadei de olhos abertos, e tudo era sombrio e verde. A jangada formava uma mancha escura. Saí da água, junto dela, subi, mergulhei mais uma vez, demoradamente, e depois alcancei a praia a nado. Fiquei deitado na areia até secar, depois fui à cabina, tirei o maiô, banhei-me com água doce e me enxuguei.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário