Muito bom o
livro de Richard Gordon “A assustadora história da medicina”. Seu estilo é de
humor ácido, destacando como esta aparentemente distinta ciência viveu muito
tempo de misticismo, chutes, ou acasos, até que fossem descobertas algumas de
suas bases.
Quando eu
tinha 15 anos, imagino que como todo mundo, minhas ideias sobre a vida eram
deveras incompletas, distorcidas. Certezas categóricas que se provaram absurdos
completos, muitas vezes. Da mesma forma, minhas ideias aos 38 possivelmente
parecerão esdruxulas ou incompletas quando eu tiver 60. É justo pensar assim?
Que dizer
então da evolução da ciência? Nossas ideias no inicio do século XX parecem
absurdas, e em breve nós veremos o quão idiotas somos ao tratar (ou padecer) de
certas doenças que no futuro serão dominadas.
Sem métodos
para estudar fenômenos estatísticos, comunicar diferentes experimentos e
especialistas, a medicina, tal como outras ciências, engatinhou até o século
20. Absurdos completos foram defendidos, da famosa trepanação (tratamento que
consiste em fazer um furo no crânio, para fazer saírem os maus espíritos) até o
completo desconhecimento sobre micróbios e a necessidade de operar em ambiente
limpo.
Exercer a
medicina era lidar com algo religioso – o território da morte e da dor, que
outrora eram explicados e tratados com a religião, diretamente. Não por acaso,
sempre houveram atritos entre os médicos e o clero. É dai também, imagino, que
se iniciou o desproporcional status da profissão. Ainda há algo de místico na
silhueta destes profissionais, que outrora utilizaram a bengala de ouro, e hoje
usam jaleco e estetoscópio no pescoço. Suas falas cheias de certeza muitas
vezes me lembram do adolescente de 15 anos supra-citado.
Enfim,
voltando ao livro, o desenrolar tem ritmo bom, e muitos fatos interessantes,
que explicam os nomes das doenças, de alguns pontos de nossa anatomia, ou mesmo
de procedimentos e tratamentos. É bonito constatar nosso avanço. Numa critica pontual, depois da página 170 o
livro parece perder energia (o autor teria se cansado? Ou foi apressado pelo
editor?). Há algumas frase repetidas no livro – que eu entendo fruto de edições
desastradas.
É inequívoco
o avanço, e com todos os recursos que temos, as pesquisas hoje seguem mais
rápido do que as pessoas são capazes de acompanhar. O médico do futuro terá que
se especializar ainda mais – e talvez tenhamos mais degraus para transpor na
busca por solucionar um desconforto abdominal – do que só a visita ao clinico
geral e ao especialista. Talvez tenhamos que ter novos degraus: sub-especialistas
e ultra-especialistas. Talvez seja o destino de toda a ciência.
Só sei que
hoje já e assim: se todos tivessem acesso à melhor medicina, já estaríamos quebrados
como economia mundial. É uma equação que não fecha. Vamos torcer para
encontrarem respostas baratas.
Frases
selecionadas (ou pílulas de sarcasmo):
“Cientificamente,
embora seja deprimente, não passamos de sacos à prova d´água cheios de produtos
químicos carregados de eletricidade, que um dia sofrem uma pane de força."
(sobre as primeiras tentativas de vacina para
varíola) “É difícil imaginar se isso reprimiu ou fortificou sua idéia de que os
médicos dão medicamentos que mal conhecem, para curar doenças que conhecem
menos ainda, para seres humanos dos quais não sabem absolutamente nada.”
“Como sempre
acontece na medicina, os médicos continuaram a discutir e os pacientes
continuaram a morrer.”
“Os médicos
da era vitoriana eram brilhantes na identificação de todas as doenças cuja cura
eles desconheciam por completo.”
“Como Lister
descobriu a assepsia, sem saber coisa alguma sobre estreptococos, e LInd curou
o escorbuto sem conhecer a vitamina C, assim também Darwin fundou a genética,
sem saber ciosa alguma sobre o ADN (*DNA – o tradutor também traduziu a conhecida
sigla).
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