No caminhar do autor, em especial no Brasil, muitos são os
argumentos para desistir. A falta de um mercado interessado, a pobreza de nossa
formação básica, dificuldades econômicas, tudo isto dificulta. É por isso que
admiro profissionais de diferentes áreas que se arriscam pela madrugada, iluminados
pela luz pálida de seus computadores. Quando a casa está mais calma e o vinho
fez efeito, emerge em diferentes lares o(a) corajoso(a) capaz de enfrentar a
página em branco do editor de textos.
É por isto que gostei da iniciativa da editora de “Marcas na
Parede” (Andross, 2009), de divulgar trabalhos que são as raízes para a carreira de autores
iniciantes. Ver orgulhoso seu nome no livro (embora alguns textos da capa
estejam com contraste ruim), expor-se à crítica de amigos, familiares e
leitores anônimos, conhecer suas próprias deficiências e aptidões. Não há jeito
fácil de fazer isto. É preciso se expor. Alguns o fazem em blogs, interessante
alternativa, mas nada te prepara para o prazer de ver um livro com seu nome
dentro.
Sei como pode ser intimidante lidar com um texto longo e uma
narrativa com muitos acontecimentos e personagens. Começar pequeno é a chance de
lapidar frases, conhecer a reação do leitor, enfim, experimentar ser autor num
ambiente controlável. O texto pequeno é mais palatável a autores e leitores.
Mesmo o mestre Machado de Assis, publicou seus “Contos Fluminenses” em 1870,
antes de seus romances famosos, possivelmente exercitando-se para a maestria
que apresentaria a seguir.
Há algo de novo nos filmes e livros de terror lançados
ultimamente? Sempre giram em torno de nosso medos ancestrais: do escuro, do
predador, de ficar sozinho, de morrer. O gênero “terror” é bastante batido, mas
os autores de “Marcas na Parede” aceitaram o desafio e imitaram a coragem de
seus personagens: entraram na sala escura, enfrentaram seus medos e demônios.
Candelabros, casarões, cheiros pútridos, velas, monstros,
maldições... “Marcas na parede” é composto por muitos contos, de três a seis
páginas de duração, cheio dessas palavras e clichês, distribuídas pela
imaginação de um número grande de autores. Trata-se de literatura juvenil, mais
simples de acompanhar, com histórias curtas, poucos personagens, poucos acontecimentos.
Ótimo para indicar para aquele amigo que acha “cult” o gênero, ou para quem ainda
está treinando como leitor.
É nessa simplicidade que está sua maior virtude. Pode ser a
porta de entrada para literaturas mais elaboradas no gênero, depois que sabe os
policiais, e talvez direto para a literatura universal, quem sabe? Desarme seu
senso crítico, e curta uns minutos de arrepiante leitura. Recomendo
particularmente o conto de carnaval.
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