Tenho apenas duas coleções. Uma de selos e outra de
quadrinhos. Tive interesse pela filatelia, seguindo o comportamento de vários amigos
que lá por 1988 eram dedicados ao tema, mesma época em que comecei a curtir
comprar, ler e guardar quadrinhos.
A coleção de selos da maioria dos amigos era modesta como a
minha, com uns selos ganhados e trocados, outros comprados. Porém, uma delas superava
a todas em quantidade e variedade. A coleção deste amigo era mais diversa e
rica, porque seu pai havia reunido selos numa caixa de sapato durante a vida
toda. Ao longo das inúmeras arrumações de casa, mudanças de cidade, mudanças de
vida, mudanças de foco, ele perseverou, preservando sua caixa de sapato cheia
de selos.
Foi admirando o poder deste gesto, que decidi guardar minhas
coleções. Por simples que fossem, seriam antigas e raras quando meu filho se
aventurasse em continua-las. Ele tem quatro anos agora, então não faço ideia se
um dia ele continuará a coleção, ou se apenas vai joga-la fora ou vende-la. De
toda forma, preservei meus selos e meus gibis (como chamávamos antes de as
novas gerações inventarem nomenclaturas mais elaboradas), e espero ter a chance
de entregar a ele quando for mais velho.
Meu interesse por quadrinhos aumentou quando um amigo daquela
época me mostrou que os quadrinhos poderiam ser mais do que “Turma da Mônica”.
Passei a colecionar as revistas dos heróis da Marvel (e uns poucos da DC), em
especial as histórias do DEMOLIDOR e do JUSTICEIRO. Gostei no jeito “cinematográfico”
de contar histórias, dos roteiros radicais, e dos atos de heroísmo. Fantasiei
ter poderes e esconder minha identidade secreta, que quase sem querer seria
eventualmente descoberta pela garota de quem eu gostava. Quem quiser dar uma
olhada na coleção, basta visitar meu perfil no skoob.
Há pouco mais de um mês, um conhecido casou, mudou para um
apartamento pequeno e foi vencido por um ultimato da esposa. Aceitei
imediatamente a honra de ganhar sua coleção. Guardaria-a com cuidado, junto da
minha, não antes de cadastra-la na minha “estante”. Para fazer isto, além de localizar os títulos,
era importante lê-los. Fazia mais de vinte anos que eu não abria um gibi.
Da experiência, um bom e um mau resultado. Começando pelo
mau, NÃO AGUENTEI ler X-MEN. Terei mudado eu ou a linha editorial?
Provavelmente os dois. Achei que eles só pensavam em lutar, com bravatas
babacas contra os inimigos: “isso porque você ainda não provou meus poderes”. Frustrantes também as experiências com o HULK,
QUARTETO FANTÁSTICO, e apenas suportáveis com HOMEM-ARANHA. Havia pouco DEMOLIDOR
e nenhum JUSTICEIRO, infelizmente.
E a boa experiência? SPAWN!!! Não existia no tempo em que eu
acompanhei, então li quase a coleção toda sem parar, até o N100 (faltando
alguns). Desenho primoroso, roteiro melhor ainda. Suspense de primeira, uma
trama com toques religiosos, outros policiais. O clima é fantástico, te
transporta para noites chuvosas e sinistras. SPAWN é tudo o que o Batman tentou
ser, sem conseguir.
“Sirenes distantes,
gritos abafados e suspiros de amantes rompem o silêncio noturno. Uma voz flutua
acima das demais, ecoando pelas trevas. Suave como um sussurro e poderosa como
um trovão. Você pode ouvi-la? - Este é o
destino que eu escolhi. Este mundo e suas sombras me pertencem. Agora e para
sempre...eu sou o SPAWN!”
Não sei se há esperanças para o velho leitor de quadrinhos
que existe em mim. Mas este “revival”
de leituras de gibis me ensinou uma coisa nova. A boa literatura não está
apenas nos livros clássicos. Ela também pode se apresentar numa história
ilustrada, na crônica da revista semanal, num capítulo inspirado de novela, num
filme que nos marca. Basta não termos preconceito e direcionarmos nosso olhar sedento,
em busca daquele detalhe que vai prender nossa atenção. Contar e ouvir
histórias está em nós de maneira indelével.
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