quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Poder da Paternidade- A QUEDA, Diogo Mainardi

Tive interesse por este livro, pela primeira vez, ao assistir ao programa RODA VIVA (http://youtu.be/te_orU6Ft-A?list=PL94BBCA6961128733) , da TV Cultura, com este autor. Além das habituais polêmicas sobre suas opiniões políticas, o tema central do programa era o lançamento desse seu romance. O autor possui mais outros (inclusive o premiado “Malthus”), além de livros-coletâneas de artigos que escreveu para a revista VEJA.

O retrato do ser humano, é muito interessante. Diogo Mainardi teve a chance de uma educação aprofundada. Leitor de alto nível, desenvolve suas ideias próprias e as apresenta com sua expressão de enfado, segurança e até certa arrogância.

Diogo tem dois filhos, dos quais o primeiro, devido a um erro médico no parto, teve paralisia cerebral, apresentando comprometimentos motores. Após ganhar processo contra o hospital, mudou-se para Veneza, onde já morara, e agora vive tranquilamente, com uma rotina bastante discreta.

“A QUEDA” é sobre sua relação com o filho e suas incapacidades. Mostra de maneira interessante e bem escrita a luta travada por uma mente inteligente, com muitos argumentos, para acomodar a realidade que o aplacou. Mostra como o amor paternal pode transformar a vida de um homem.

A impressão que tive é que até o nascimento do filho e da extrema responsabilidade que isto acarretou, Mainardi vivia como um estranho no mundo. Pessoa com pensamentos próprios e senso crítico afiado, devia se enfadar com nossa cultura medíocre, baseada nas aparências e no consumo. Sua resposta defensiva foi a arrogância, ou intelectualizar-se ainda mais, na vaidade de repudiar e se diferenciar do incômodo à sua volta. Seu filho o trouxe do mundo das ideias:

“Sua paralisia cerebral obscureceu tudo o que eu sempre cultuara. Em particular, a literatura. O que se iluminou – o que se tornou o único foco de minha vida – foi o que ela tinha de mais ordinário, de mais doméstico, de mais familiar.”

Agora reatado com o mundo, com a beleza finita e rara de cada vida, mostra saborear isto a cada dia, acompanhando os tênues progressos de seu filho. Continua cético e incomodado com a ignorância à sua volta, mas agora parece ter encontrado uma razão para seguir. “A QUEDA” é também um tributo ao filho e ao presente involuntário que recebeu.

Continua ciente de sua (nossa) insignificância histórica, mas agora a abraça como uma velha amiga. Diogo Mainardi afirmou no RODA VIVA que este é seu ápice como escritor. Que não fará mais nada “que preste” além deste livro, pois foi completamente sincero ao fazê-lo:

“Para Marcel Proust, a ´vida verdadeira, a única vida plenamente vivida, era a literatura`. Para mim, a vida verdadeiramente vivida passou a ser Tito.”


Ao desentronizar a literatura, aproxima-se mais de seus recantos mais nobres e de seus talentos mais raros. Este livro, pela sinceridade ao limite, pela análise ácida de nossas ilusões, pelas referências históricas, ganha-nos pelo estômago, e passa a fazer parte de meus preferidos. 

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