Tive interesse por este livro,
pela primeira vez, ao assistir ao programa RODA VIVA (http://youtu.be/te_orU6Ft-A?list=PL94BBCA6961128733)
, da TV Cultura, com este autor. Além das habituais polêmicas sobre suas
opiniões políticas, o tema central do programa era o lançamento desse seu
romance. O autor possui mais outros (inclusive o premiado “Malthus”), além de livros-coletâneas
de artigos que escreveu para a revista VEJA.
O retrato do ser humano, é muito
interessante. Diogo Mainardi teve a chance de uma educação aprofundada. Leitor
de alto nível, desenvolve suas ideias próprias e as apresenta com sua expressão
de enfado, segurança e até certa arrogância.
Diogo tem dois filhos, dos quais
o primeiro, devido a um erro médico no parto, teve paralisia cerebral, apresentando
comprometimentos motores. Após ganhar processo contra o hospital, mudou-se para
Veneza, onde já morara, e agora vive tranquilamente, com uma rotina bastante
discreta.
“A QUEDA” é sobre sua relação com
o filho e suas incapacidades. Mostra de maneira interessante e bem escrita a
luta travada por uma mente inteligente, com muitos argumentos, para acomodar a
realidade que o aplacou. Mostra como o amor paternal pode transformar a vida de
um homem.
A impressão que tive é que até o
nascimento do filho e da extrema responsabilidade que isto acarretou, Mainardi
vivia como um estranho no mundo. Pessoa com pensamentos próprios e senso
crítico afiado, devia se enfadar com nossa cultura medíocre, baseada nas
aparências e no consumo. Sua resposta defensiva foi a arrogância, ou
intelectualizar-se ainda mais, na vaidade de repudiar e se diferenciar do
incômodo à sua volta. Seu filho o trouxe do mundo das ideias:
“Sua paralisia cerebral obscureceu tudo o
que eu sempre cultuara. Em particular, a literatura. O que se iluminou – o que
se tornou o único foco de minha vida – foi o que ela tinha de mais ordinário,
de mais doméstico, de mais familiar.”
Agora reatado com o mundo, com a
beleza finita e rara de cada vida, mostra saborear isto a cada dia,
acompanhando os tênues progressos de seu filho. Continua cético e incomodado
com a ignorância à sua volta, mas agora parece ter encontrado uma razão para seguir.
“A QUEDA” é também um tributo ao filho e ao presente involuntário que recebeu.
Continua ciente de sua (nossa)
insignificância histórica, mas agora a abraça como uma velha amiga. Diogo
Mainardi afirmou no RODA VIVA que este é seu ápice como escritor. Que não fará
mais nada “que preste” além deste livro, pois foi completamente sincero ao
fazê-lo:
“Para Marcel Proust, a ´vida verdadeira, a
única vida plenamente vivida, era a literatura`. Para mim, a vida
verdadeiramente vivida passou a ser Tito.”
Ao desentronizar a literatura,
aproxima-se mais de seus recantos mais nobres e de seus talentos mais raros.
Este livro, pela sinceridade ao limite, pela análise ácida de nossas ilusões,
pelas referências históricas, ganha-nos pelo estômago, e passa a fazer parte de
meus preferidos.
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