quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Noturno Indiano - Antonio Tabucchi

Uma história de herói, em que o protagonista sai de sua posição de conforto, aventura-se no desconhecido e sai aperfeiçoado desta experiência. Uma história jornalística, em que o cenário denuncia uma condição política, uma injustiça, um crime. Uma história romântica, em que após desencontros um casal se encontra e se ama para sempre, ou se mata por não consegui-lo. Uma saga de família, com seus altos e baixos. Encontre tantos outros roteiros. Hoje em dia, é difícil ser um autor original.

Na busca por uma obra genuinamente nova, vários autores propõem experiências. Que tal escrever sem pontuação? Sem final? Com final alternativo? Que tal embaralhar os capítulos? Quebrar expectativas do leitor? Mas parece que essas fórmulas agradam menos aos leitores. Nossos clássicos e best-sellers ainda são derivados das velhas fórmulas.

Antonio Tabucchi tenta uma novidade em “Noturno Indiano”. Apenas um homem viajando por hotéis da Índia. O Homem procura outro (Xavier), razão frágil de suas andanças. Sem pressa, sem vida antes ou depois, absorve o entorno de maneira contemplativa, neutra. Fica embriagado por vezes, mas prescinde desse recurso para parecer destacado da realidade. Inebria-se ainda dos detalhes, das pessoas que conhece, das vaidades que confronta e apresenta. Quem já leu “O Apanhador no Campo de Centeio” ou “On the Road”, talvez tenha até se afeiçoado a esta estética. Uma escrita descritiva, saborosa, mas que abre mão de um destino, de um propósito. Não por acaso, esses exemplos também se passam em viagens, em locais transitórios.

Sofia Copolla também explorou esta transitoriedade, fazendo seus filmes se passarem em hotéis. Hotéis são agradáveis, mas impessoais. Te compelem a uma situação transitória. Você está ali apenas temporariamente. São cenários, mas para situações reais. Aquilo é sua vida, mas ao mesmo tempo não é. E para onde levarão as viagens e as experiências acumuladas? Não importa. Decida você, leitor, o nem se dê ao trabalho. Você carrega suas experiências consigo, como páginas lidas.

Da mesma forma, Tabucchi parece não se importar. Quer apenas que suas páginas sejam lidas, e façam parte de nossa experiência. Não precisam levar a lugar algum:

“Só nesse momento percebi que era louco. Percebi (...), e tudo isso não me espantou: provocou-me só uma indiferença cansada, como se tudo fosse necessário e inelutável.”

Ah! Em tempo, o Xavier, que o personagem principal procura é nada menos que...bem, não serei “spoiler”, mas me surpreendeu. Deixei você curioso(a), certo? "Necessário e Inelutável"...

“ – Quem pode saber? – eu disse - , é difícil, isso nem eu que escrevo o livro sei. Talvez procure um passado, uma resposta para alguma coisa. Talvez queira agarrar algo que tempos atrás deixou escapar. De qualquer modo, está à procura de si mesmo. Quero dizer que é como se procurasse a si mesmo procurando-me: nos livros acontece muitas vezes assim, é literatura.”

Empilhei todos os livros que li. Do alto desse modesto montinho, não consegui enxergar a qualidade tão premiada de Antonio Tabucchi. Ao menos não em “Noturno Indiano”.