“Aqueles que
não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”
– George Santayana (1863-1952)
Apesar de
ter estudado em uma boa escola, não importava quão interessante uma matéria
podia me parecer. Eu estava ocupado
demais construindo minha personalidade, tentando me sociabilizar e ainda tirar
boas notas – este último um desvio de função que realmente atrapalha o
aprender.
Pois foi
agora, perto dos 40 anos de idade, que decidi retomar meu interesse pela
história. Venho estudando história da arte no Khan Academy (www.khanacademy.org), mas em especial o
momento era propício para a história do Brasil. Acredito veementemente que entender
a história de nossa política e a raiz de nossas dificuldades atuais pode nos
guiar pelo labirinto de ódio e de pessoas com “certeza absoluta” sobre suas
opções. O ódio nunca foi um bom conselheiro.
Escolhi o
livro de Eduardo Bueno por ter uma boa impressão de suas entrevistas na TV. Ele
parecia dar um refresco ao estudo da história do Brasil, interpretá-la com um
olhar mais distante, diferente daqueles que a codificaram e ideologizaram
durante o período militar. É certo que toda a opinião tem ideologias por trás,
mas eu queria mais fatos, para que pudesse eu mesmo checar as interpretações
que deles derivaram.
“BRASIL,
uma história – Cinco séculos de um país em construção” é ótimo! Leitura leve,
mas com bom nível de detalhe e encadeamento de ideias. Cumpre bem a proposta.
Não tem cara de livro didático, e te faz prolongar as sessões de leitura.
Passando
pelos nomes importantes de nossa história, que vemos nomeando ruas e avenidas,
tive maior conhecimento sobre o descobrimento, a relação entre os países
europeus que por aqui deitaram seus interesses, nossa independência, a
república, a escravidão, os ciclos econômicos, Getúlio Vargas, período militar,
Diretas já, enfim, aqueles temas que não nos são estranhos, mas que fazem mais
sentido se apresentados em sequência curta, mesmo que com menos detalhes. O
autor fala de Collor, FHC, Lula e mesmo o início do governo Dilma, com um olhar
suficientemente distante. Não endeusa nenhum deles, fala de acertos e erros, e
de nossa relativa dificuldade em superar problemas pela fraqueza de nossas
instituições.
Faz também
um bom retrospecto de nossa cultura. Esta parte é particularmente interessante
para quem gosta de literatura e música. Teve apenas um pequeno deslize, ao apresentar
o Chacrinha como “mais brilhante, mais tropicalista, mais antropofágico, mais
macunaímico e mais brasileiro” dos apresentadores. Teve sua importância, é
óbvio, mas é preciso umas doses na cabeça para usar o adjetivo “macunaímico”.
Algumas
Frases:
“... Thomas
Ewbank, também britânico, dizia que, no Brasil, “um jovem preferiria morrer de
fome a abraçar uma profissão manual”. Segundo ele, a escravidão tornara “o
trabalho desonroso – resultado superlativamente mau, pois inverte a ordem
natural e destrói a harmonia da civilização”.
“D. Pedro
II parece ter percebido a verdade contida na frase do senador Holanda Cavalcanti:
“Nada se assemelha mais a um saquarema do que um luzia no poder”. “Luzias” eram
os liberais, e “saquaremas” os conservadores: embora em tese fossem adversários
irreconciliáveis, no fundo eram farinha do mesmo saco.”
“Dutra era
uma figura caricata, sobra a qual surgiram muitas piadas. Uma delas contava
que, ao ser cumprimentado por Truman, que dissera “ How do you do, Dutra”, o
marechal de imediato respondeu: “How Tru you Tru, Truman”
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